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Formada em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, com especialização em Administração pela FIA-USP e MBA em Gestão da Saúde pelo INSPER e Coaching pelo Instituto Brasileiro de Coaching e Universidade de Ohio

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Humanização na Saúde - Cenário II

Num hospital de referência em oncologia, que prima pela humanização, acompanhei o atendimento de uma paciente de 72 anos, num dia de consulta de rotina com seu médico clínico.

Agendada para o primeiro horário e com chegada antecipada de 45 minutos cumprida, a paciente teve seu atendimento realizado de forma exemplar e humana pelo profissional médico que a acompanhava.

Além de avaliar toda a evolução da paciente através de prontuário eletrônico, esclareceu as dúvidas, ouviu com atenção, fez exame clínico, usou de muita empatia e carinho, demonstrou muita competência no trato com pacientes e carências naturais desta condição clínica.

Passados 15 minutos da consulta, exatamente uma hora da chegada da  paciente no hospital, a senhora a quem passo a chamar pelo nome fictício de "D. Rosa", parte  para o processo de agendamento dos próximos exames de controle e da consulta do mês seguinte.

Enfrenta uma fila para reencaminhamento da senha, onde uma funcionária  conversava alegremente com sua colega sobre um outro funcionário que - aparentemente - lhe fazia brilhar os olhos além da admiração profissional.

Rapidamente ela olhou os papéis com a paciente, registrou a senha e encaminhou D. Rosa para o guichê de número 57. Sim, eu disse 57. Imagine que esta senhora caminhou um bom pedaço para chegar lá.

Que bom, pensei. D. Rosa dera sorte pois não havia ninguém para ser atendido em sua frente e facilmente fez seus agendamentos. Partiu dali para a farmácia, em busca da retirada do medicamento quimioterápico oral que faz uso e que o médico acabara de prescrever. Não sem antes dar uma olhada nas pinturas da exposição do projeto de humanização, no hall principal.

Conseguiu em uma hora e meia colocar-se a postos no ponto de ônibus que a levaria até a farmácia do hospital, há cerca de 5 longos quarteirões.

Lá chegando, também senti alívio ao ver que a fila era razoavelmente pequena para as 10:30 horas da manhã de uma segunda-feira, afinal, aquela senhora claudicante, que fazia uso de uma bengala para apoio, merecia um descanso depois de tamanha caminhada!

Ela retirou sua senha preferencial após apresentar todos os papéis e prescrições médicas que lhe foram  dadas e logo foi atendida. O rapaz do guichê, muito educadamente, pediu a ela que aguardasse, retirou-se por cerca de 2 minutos e retornou:

- Infelizmente a senhora não poderá retirar esse medicamento porque falta o carimbo da enfermagem na receita.

D. Rosa não acreditara no que ouvira: - Como assim, meu filho? Tenho que voltar ao hospital por causa de um carimbo da enfermagem? Mas não foi o médico que mandou eu tomar o remédio?

- Sim. - responde o rapaz . Mas essa é a norma. Sabe, é um procedimento de segurança para o paciente porque já aconteceu de paciente tomar remédio errado e isso aí a gente chama de dupla checagem.

Intercedi em favor de D. Rosa, considerando sua condição e idade. O rapaz agilmente ofereceu a possibilidade de argumentar com o gerente. Fez uma ligação, disse que já havia explicado a situação e em seguida aparece um rapaz com crachá de farmacêutico que após explicar toda a situação daquela velhinha, respondeu-me:
- Então, é como já foi explicado. Esse é o "protocolo" e infelizmente ela não poderá levar o medicamento. A senhora precisa entender que não sou eu, é o governo que exige o carimbo.

Argumentamos, eu e D. Rosa, sem nenhum eco ao coração daquele jovem rapaz, que parecia haver engolido uma antiga radiola: - Eu sei, mas é o protocolo de segurança, não sou eu. A senhora quer falar com o gerente?

Sim, respondemos eu e D. Rosa. O rapaz se retirou, saiu acompanhado de um outro senhor engravatado que disse a ele, sem nos dirigir olhar: - Ok, eu falo sim, mas antes tenho que ir até ali resolver um negócio. Já volto.
Dizendo isso saiu do prédio e não mais voltou.

Grande abraço.

Jessica M Gomes





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